25 de setembro de 2025

Teologia, Pensamentos, Filosofia, Deus

O discurso sobre Deus e o discurso com Deus

Nós, como cristãos, devemos ter o desejo natural de falar sobre Deus: de proclamar quão magníficas são as suas obras, quão maravilhosa é a sua misericórdia e quão sábia é a sua providência em nossas vidas. Isso nos é devido e nos é natural, como nascidos de novo, falar de tudo o que se refere ao nosso Deus e nos deleitarmos nisso. No entanto, por ainda carregarmos os resquícios do pecado, podemos corromper até aquilo que é bom — inclusive o falar sobre Deus. Quando tratamos do ser de Deus e de suas obras, estamos falando como quem ama a Ele ou como quem apenas ama o saber sobre Ele? Falamos desejosos de Deus porque o amamos, ou porque amamos preencher a vida com algo que nos distraia da realidade? Perguntas como essas são fundamentais para discernirmos se nosso discurso é realmente sobre Deus ou se está apenas preenchido com ideias sobre Ele. Podemos falar com vigor sobre Deus, usar a melhor retórica e os recursos linguísticos mais refinados; podemos atrair ouvintes com nosso discurso, podemos até nos enganar como se realmente acreditássemos no que dizemos. Mas, no final, talvez estejamos apenas falando sobre Deus — balbuciando palavras sem termos vida real com Ele. Isso não necessariamente toca a questão da salvação, mas certamente denuncia uma vida cristã fraca, falsamente sustentada pelo discurso, e não realmente preenchida por Deus. Um discurso verdadeiramente preenchido de Deus pressupõe uma vida também preenchida por Ele. Significa comunhão íntima e real, que transborda para todas as áreas da existência, inclusive para o falar. Nesses casos, muitas vezes nem é preciso mencionar o nome de Deus em cada frase; a retórica não precisa ser carregada de emoção, nem a linguagem ter o esplendor da poesia. O que se percebe é que o discurso aponta para Deus, como alguém que fala naturalmente de sua paixão amorosa. Por mais simples que seja a linguagem, o amor por Deus se torna evidente. O discurso com Deus vai além dos momentos explícitos de conversa religiosa ou teológica. Ele abrange todas as ações e palavras que refletem algo de Deus em si mesmas. Isso inclui, sim, a conversa religiosa ou teológica, mas somente quando é real — quando expõe a Deus em vez de apenas enredá-lo num discurso sem fundamento. Nosso falar deve estar impregnado de Deus até quando comentamos sobre carros, futebol ou livros; e, ao mesmo tempo, não deve se reduzir a meras palavras sobre Deus mesmo quando tratamos de oração, culto ou pregação. Que tenhamos vida, e vida em abundância nEle.

Teologia

SILAS MALAFAIAAPRENDENDOCOMJESUS

CAPÍTULO 1APRENDENDO A TER COMPAIXÃOEm Mateus 14.13-21, está escrito:E Jesus, ouvindo isso, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto,apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades. E Jesus,saindo, viu uma grande multidão e, possuído de intima compaixão paracom ela, curou os seus enfermos. E, sendo chegada a tarde, os seusdiscípulos aproximaram-se dele, dizendo: O lugar é deserto, e a hora é jáavançada; despede a multidão, para que vão pelas aldeias e compremcomida para si. Jesus, porém, lhes disse: Não é mister que vão; dai-lhes vósde comer. Então, eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco pães e doispeixes. E ele disse: Trazei-mos aqui. Tendo mandado que a multidão seassentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendoos olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, eos discípulos, à multidão. E comeram todos e saciaram-se, e levantaramdos pedaços que sobejaram doze cestos cheios. E os que comeram foramquase cinco mil homens, além das mulheres e crianças.Depois de receber a notícia da morte de João Batista por ordem de HerodesAntipas, Jesus, entristecido, saiu da Galileia e seguiu de barco com Seusdiscípulos para um lugar afastado, provavelmente em Betsaida (Lucas9.10), a fim de descansar e recompor-se física e emocionalmente.Sabendo do paradeiro do grande Mestre, que evangelizava os pobres,curava os enfermos e libertava os oprimidos por espíritos malignos, umagrande multidão de homens, mulheres e crianças seguiu-o por terra, a pé,para ouvir os Seus ensinamentos e ser alvo de Seus milagres. Esse é ocontexto do episódio narrado em Mateus 14.13-21.É interessante notar que, a despeito de o Senhor estar cansado pela viageme abatido com a injusta execução de Seu precursor e amigo, Ele foipossuído de íntima compaixão pela multidão, curando os enfermos,ensinando-lhes as Escrituras e multiplicando pães e peixes para dar decomer àquelas pessoas que o seguiram de tão longe, atraída’ por Suabondade e graça.O que motivou Jesus a, em meio à Sua dor pessoal, colocar-se no lugar deoutros, curar enfermos, evangelizar e alimentar a multidão? A íntimacompaixão que Ele sentiu daquelas pobres pessoas que buscavam nele asolução para seus dilemas e problemas.Sendo divino e humano, o Filho de Deus e a expressa imagem do Pai, bemcomo o último Adão e nosso modelo de ser humano, Jesus se compadeceude nós e deixou-se mover por isso, agindo em conformidade com Seu amore Sua misericórdia. Devemos, portanto, fazer o mesmo, compadecendo-nosuns dos outros e de nosso próximo, em obediência a Deus e à nossavocação em Cristo.O significado de compaixãoMas o que é compaixão? O termo grego original traduzido comocompadeceu-se, em Mateus 1-1.14, significa literalmente intestinos. Isto sedeve ao fato de os antigos acreditarem que as emoções estivessemintimamente ligadas aos intestinos, talvez porque elas afetassem ofuncionamento destes; daí a mesma palavra denotar, por associação,compaixão, misericórdia, simpatia, amor, afeição.O sentimento de compaixão está associado à piedade e simpatia para com atragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la.Compaixão implica ter simpatia, colocar-se no lugar do outro, estar juntodele e suprir sua necessidade. Em outras palavras, é sentir profundamente ador alheia como se fosse nossa. Não é apenas ter pena; é participar da dordo outro e ajudá-lo a resolver o problema.A compaixão requer uma atitude em prol do outro. É por isto que, aocompadecer-se da multidão, Jesus fez algo concreto: curou os enfermos esaciou a fome dos famintos.Compaixão, um dos principais atributos cristãosAliás, compaixão é uma das principais características de Deus que Jesusmanifestou à humanidade. Como observou o comentarista R. N. Champlin:[O Senhor] sentia o problema do mal […] e aliviava os sofrimentos alheiossem qualquer objetivo de fomentar Sua popularidade […] Jesus curouimpulsionado pela misericórdia […] e se utilizou dessas curas paraenfatizar lições espirituais, especialmente a dependência que o homemdeve ter de Deus, confiando no Senhor. (Champlin, 2002, p. 421) *Misericórdia é um gomo do fruto do Espírito, relacionado em Gálatas 5.22;portanto, é algo que Deus espera que tenhamos e manifestemos uns paracom os outros, conforme é revelado em Oséias 6.6: Porque eu queromisericórdia e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do queholocaustos.Foi essa vontade que Jesus ratificou em Mateus 9.13; 12.7, assinalandoque, embora os líderes religiosos judeus da época alegassem zelo nocumprimento da lei de Deus, estavam negligenciando o principal: a justiçatemperada com a misericórdia, que é o cerne da lei; daí o Mestre terenfatizado que Ele veio para chamar os pecadores ao arrependimento, e nãoos que se consideravam justos, até porque, como lembrou Paulo emRomanos ;. 10,21: não há um justo sequer; todos pecaram e destituídosforam da graça de Deus.Se hoje somos considerados justos diante do Criador e Juiz de todos, não épelos nossos próprios méritos, mas por causa da justiçado Filho de Deus,que nos foi imputada quando Ele ofereceu o Seu sacrifício na cruz, paraperdão e expiação dos nossos pecados e nossa reconciliação com o Pai.Sendo assim, estando justificados por Cristo, devemos praticar obras dejustiça e amor, que atestem nossa fé e nossa nova natureza e condiçãoespiritual (Mateus 5.16; Tiago 2.14-18).Os discípulos de Cristo têm demonstrado compaixão genuína?Jesus assinalou que o amor e a compaixão são as marcas dos verdadeirosdiscípulos dele (João 13.35; 1 João 2.9-11). Mas será que, como cristãos,temos demonstrado amor e compaixão à multidão de pecadores perdidos,ou estamos preocupados apenas com a nossa própria vida e o nosso bemestar?Como reagimos quando uma pessoa necessitada vem até nós na igreja?Damos-lhe atenção? Tentamos ajudá-la? Temos sempre uma palavra deânimo, ou nos mostramos indiferentes, aconselhando-a a procurar o auxíliodo pastor, em vez de fazermos algo que esteja ao nosso alcance?E com relação a alguém com quem trabalhamos ou estudamos todos osdias? O que fazemos ao sabermos que tal pessoa está passando por umacrise, problema ou enfermidade? Colocamo-nos no seu lugar ecompartilhamos com ela o amor de Deus e o evangelho de Jesus? Ou noscomportamos como “Agentes secretos” do Reino, permanecendoinfrutíferos, para ninguém exigir algo de nós ou nos confrontar? Somossolidários ou indiferentes à dor alheia?Estamos imitando o nosso Mestre e tendo compaixão uns dos outros e dosaflitos? Ou estamos tão envolvidos com os nossos problemas e dilemas quejá nem nos