Nós, como cristãos, devemos ter o desejo natural de falar sobre Deus: de proclamar quão magníficas são as suas obras, quão maravilhosa é a sua misericórdia e quão sábia é a sua providência em nossas vidas. Isso nos é devido e nos é natural, como nascidos de novo, falar de tudo o que se refere ao nosso Deus e nos deleitarmos nisso.
No entanto, por ainda carregarmos os resquícios do pecado, podemos corromper até aquilo que é bom — inclusive o falar sobre Deus. Quando tratamos do ser de Deus e de suas obras, estamos falando como quem ama a Ele ou como quem apenas ama o saber sobre Ele? Falamos desejosos de Deus porque o amamos, ou porque amamos preencher a vida com algo que nos distraia da realidade? Perguntas como essas são fundamentais para discernirmos se nosso discurso é realmente sobre Deus ou se está apenas preenchido com ideias sobre Ele.
Podemos falar com vigor sobre Deus, usar a melhor retórica e os recursos linguísticos mais refinados; podemos atrair ouvintes com nosso discurso, podemos até nos enganar como se realmente acreditássemos no que dizemos. Mas, no final, talvez estejamos apenas falando sobre Deus — balbuciando palavras sem termos vida real com Ele. Isso não necessariamente toca a questão da salvação, mas certamente denuncia uma vida cristã fraca, falsamente sustentada pelo discurso, e não realmente preenchida por Deus.
Um discurso verdadeiramente preenchido de Deus pressupõe uma vida também preenchida por Ele. Significa comunhão íntima e real, que transborda para todas as áreas da existência, inclusive para o falar. Nesses casos, muitas vezes nem é preciso mencionar o nome de Deus em cada frase; a retórica não precisa ser carregada de emoção, nem a linguagem ter o esplendor da poesia. O que se percebe é que o discurso aponta para Deus, como alguém que fala naturalmente de sua paixão amorosa. Por mais simples que seja a linguagem, o amor por Deus se torna evidente.
O discurso com Deus vai além dos momentos explícitos de conversa religiosa ou teológica. Ele abrange todas as ações e palavras que refletem algo de Deus em si mesmas. Isso inclui, sim, a conversa religiosa ou teológica, mas somente quando é real — quando expõe a Deus em vez de apenas enredá-lo num discurso sem fundamento.
Nosso falar deve estar impregnado de Deus até quando comentamos sobre carros, futebol ou livros; e, ao mesmo tempo, não deve se reduzir a meras palavras sobre Deus mesmo quando tratamos de oração, culto ou pregação.
Que tenhamos vida, e vida em abundância nEle.

Pai dedicado e marido apaixonado, Orlando atua como teólogo elucidativo, aberto ao diálogo e à conversação, mas também firme na resposta às cosmovisões que não se submetem à Palavra de Deus. Sua vocação é articular a verdade bíblica de maneira clara, confrontando visões contrárias e edificando uma visão de mundo alicerçada nas Escrituras.