Apologética é a defesa da fé. Em particular, trata-se da defesa da fé cristã contra os argumentos de nossos inimigos, contra outras visões de mundo, contra debatedores que se levantam contra a verdade das Escrituras e contra intelectuais e ideias que negam a Palavra de Deus.
A apologética só pode ser eficaz por uma via: a via pressuposicional. A visão pressuposicionalista, fundamentada no conceito de pressupostos, é a única abordagem correta. Qualquer tentativa de defender a fé a partir de outro fundamento é falha.
O motivo é simples: o cristianismo se propõe como verdade absoluta. Como religião, ele abarca toda a vida do indivíduo. O cristianismo crê em conversão, que é mudança total de vida. Ele oferece uma cosmovisão — toda a sabedoria de Deus aplicada à existência humana. Acredita que as Escrituras são úteis para toda a vida do homem e o aperfeiçoamento em Cristo. Tudo isso implica que a apologética só pode ser pressuposicional, porque a cosmovisão é necessária.
Quando discutimos as essências de uma cosmovisão, chegamos inevitavelmente às bases da epistemologia, da metafísica e da ética. Em especial, na epistemologia encontramos o axioma: um princípio não demonstrado externamente, mas fundamentado em si mesmo pela sua autoevidência e autojustificação. O axioma é aquilo que se declara como fundamento, e cujas proposições sustentam um sistema coeso. A partir dele, podemos compreender a metafísica e a ética e, sobre essas três matérias, construir todo o arcabouço filosófico, firmados no arcabouço teológico que gera uma cosmovisão e sua aplicação.
Assim, a apologética só pode ser pressuposicional. E como aplicá-la? Tendo entendido como a cosmovisão funciona, devemos nos aprofundar completamente na cosmovisão cristã. “Completamente” aqui significa ter os fundamentos claros. Uma criança de cinco anos, que tenha compreendido o essencial da fé cristã, jamais perderá diante de um grande intelectual, se for verdadeiramente cristã. Ao entender o mínimo sobre salvação, fé em Deus, vida prática com Ele e conhecimento por meio das Escrituras, ela será capaz de derrubar sofismas.
Pois é isso que o mundo produz sem Deus: sofismas. Todas as verdades fragmentadas que as pessoas encontram “lá fora” são verdades de Deus. Porém, sem Cristo, elas não podem justificá-las. O cristão, por sua vez, pode discernir o que é verdadeiro e o que é falso, justificar a verdade e demonstrar a falsidade.
Qual é, então, o telos — o sentido, o objetivo da apologética? É a própria cosmovisão. Defender a fé é cumprir o mandamento de 1 Pedro 3.15: estar preparados para falar da nossa esperança e demonstrá-la aos outros. Isso é evangelismo. Apologética e evangelismo não se confundem, mas se integram.
A derrubada de um argumento pode levar alguém a refletir sobre sua vida e crenças. Um debate público pode despertar reflexão nos ouvintes. Mas, assim como no evangelismo, aquele que resiste à verdade após ouvi-la acumula maior condenação diante de Deus. Se não glorificar ao Senhor pela conversão, o fará pela manifestação de Sua ira.
A apologética, portanto, é essencial. Em um evangelismo, podemos ser desafiados por alguém contrário à fé e, nesse momento, a defesa se torna necessária. Outras vezes, no próprio exercício da apologética, surgem oportunidades de evangelismo. Eles não são a mesma coisa, mas caminham juntos, como aplicação prática da cosmovisão cristã.
Na prática, a cosmovisão se insere, por exemplo, no evangelismo que pode nos levar a falar de soteriologia, pode caminhar para a pneumatologia, para a hamartiologia ou para outras áreas. Assim, a apologética se manifesta e, fica claro que, não se reduz a um debate acadêmico: ela é parte do viver cristão.
Até mesmo a pregação, que é um monólogo expositivo, tem natureza argumentativa. Quando afirmamos simplesmente “você deve crer em Cristo para ser salvo”, isso já é um argumento. A Palavra é sempre confrontativa, podemos dizer apologética em si mesma, tomadas as devidas proporções.
No fim, tudo se resume a mentes. Como Paulo diz, a mente guiada pelo Espírito vive segundo o Espírito; a mente carnal se prende às coisas da carne. Outras religiões falam em espiritualidade, mas sua “espiritualização” é demoníaca. Apenas a Escritura nos dá a mente verdadeiramente espiritual.
Nosso objetivo, então, é evidenciar que a apologética tem um fundamento e um princípio que não podem ser ignorados. Devemos estar preparados para expor a razão da nossa esperança, destruir sofismas e abater fortalezas que se levantam contra Cristo (2 Co 10).
O cristão vive em guerra: contra o mundo, a carne e o diabo. Essa luta se dá em oração, na expulsão de demônios, na cura, na pregação do evangelho, na exposição das Escrituras e também na apologética. Em todo tempo, de algum modo, exercemos defesa da fé — contra tentações internas, contra ataques satânicos à mente e contra os falsos desejos da carne. A apologética, embora tenha sua dimensão teórica e argumentativa, também pode ser vista como filosofia prática de vida, vivida no cotidiano de quem permanece em Cristo.
As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Em Cristo estamos arraigados, fortalecidos, estabelecidos. Nenhuma potestade pode nos vencer. Por isso, devemos vestir a armadura de Deus (Ef 6) e lutar, para que o Senhor seja glorificado por meio de nós.

Pai dedicado e marido apaixonado, Orlando atua como teólogo elucidativo, aberto ao diálogo e à conversação, mas também firme na resposta às cosmovisões que não se submetem à Palavra de Deus. Sua vocação é articular a verdade bíblica de maneira clara, confrontando visões contrárias e edificando uma visão de mundo alicerçada nas Escrituras.