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Destrói-os na tua verdade. Salmo 54:5b Destrói-os na tua verdade. Salmo 54:5 Destrói-os na tua verdade. Salmo 54:5

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Um problema fundamental que observo é a idolatria da ignorância na cultura e sociedade brasileira, algo frequentemente ignorado por muitos cristãos. O desperdício mental e o mau uso dos aparatos de informação e entendimento são significativos e impactam negativamente a moralidade.

Um exemplo claro é a tendência de cristãos, que deveriam ser intelectualmente aptos, tratarem oponentes intelectuais de questões morais como figuras amigáveis para diálogo, em vez de enfrentá-los em debates críticos. Esse comportamento reflete uma decadência moral e intelectual alarmante. Muitas vezes, essa atitude é motivada por um pragmatismo social, onde a notoriedade de uma pessoa é utilizada para facilitar o acesso ao conhecimento e aceitação social, mesmo que isso envolva a quebra de princípios em nome do pragmatismo. Esse pragmatismo resulta na falta de princípios firmemente fundamentados.

No Brasil, a noção de princípios fundamentados tornou-se tão banalizada que a expressão “princípios hiper-fundamentados” é necessária para indicar um compromisso profundo e consistente com aquilo em que se acredita. A necessidade de detalhar e explicar esses princípios extensivamente reflete a dificuldade em manter padrões morais elevados e bem definidos.

É particularmente preocupante ver cristãos perpetuando essa cultura decadente, especialmente em debates teológicos e outros campos críticos. Observa-se uma discrepância entre a alta capacidade intelectual em determinados campos e a falta de compreensão e engajamento com questões sociais mais amplas. Isso revela uma lacuna na formação espiritual e intelectual, onde muitos, apesar de poderem recitar textos teológicos complexos, não conseguem entender o contexto social ao seu redor. A capacidade de entender textos complexos, como os de Calvino, está distante da compreensão real dos aspectos históricos, sociológicos e psicológicos daquele momento. Mesmo cristãos acadêmicos e respeitados frequentemente falham em aplicar uma mentalidade renovada de forma integral. Isso é visível tanto em pastores renomados quanto em estudiosos, demonstrando uma falta de compreensão básica e completa das questões essenciais.

O princípio fundamental da cultura brasileira é a malandragem e o pragmatismo que prioriza o prazer imediato. É lamentável ver essas características permeando o meio cristão, especialmente na esfera intelectual. Um cristão que se diz comprometido com sua fé participa de diálogos, em vez de debates, com ideias divergentes, especialmente com adversários que o atacam indiretamente. Isso revela uma falha na compreensão da natureza da disputa intelectual e espiritual e reflete uma decadência moral e intelectual.

No contexto presposicionalista, onde a defesa da fé é vital, aceitar um diálogo com ideias opostas sem uma análise profunda é ainda mais problemático. A sabedoria bíblica enfatiza a importância do temor ao Senhor como o princípio da sabedoria e a busca ampla pelo conhecimento. A preferência por manter um diálogo superficial em vez de um debate sério é uma forma de acomodar-se a um pedantismo que disfarça a falta de comprometimento com uma vida intelectual cristã robusta. Além disso, a desculpa de que um opositor também é cristão não justifica a aceitação de ideias que contradizem profundamente os princípios cristãos. Mesmo que um adversário professe o cristianismo, se seus fundamentos são opostos aos meus, a validade de sua crença deve ser questionada. A responsabilidade de manter a paz e a ternura não deve impedir a análise crítica de questões fundamentais.

Essa inconsistência moral e intelectual destaca a discrepância entre a capacidade de memorizar e discutir textos complexos e a falta de habilidade em compreender e lidar com questões sociais e psicológicas de forma apropriada. A confrontação é necessária para despertar uma análise mais profunda e crítica das crenças e práticas cristãs.

A verdadeira intelectualidade cristã exige uma transformação completa da mente e do coração. Os cristãos devem afastar-se das amarras do sistema secular e abraçar uma vida de integridade que reflita, em todas as áreas, a sabedoria e a verdade encontradas nas Escrituras. A verdadeira reforma começa no indivíduo e tem o potencial de impactar a igreja e a sociedade de maneira profunda e duradoura.

A discrepância entre o uso de uma linguagem elevada e uma linguagem simplista revela a falta de integralidade, expondo um fetichismo intelectual que resulta em uma forma de “masturbação intelectual” – uma expressão forte, mas necessária, para descrever algo que, no fim das contas, não tem valor prático ou espiritual.

É preocupante ver tentativas de estruturar uma confessionalidade profunda sem antes reformar as bases fundamentais. Como Mano Brown observou referente a esquerda, nós nos apropriamos para o cristianismo, há uma necessidade de “voltar para a base”, o que deve ser entendido como uma volta aos fundamentos da fé e da prática cristã.

O excesso de desejo por grandes feitos, sem ação concreta e eficaz, cria um cenário de fetichismo intelectual. Esse desejo de destaque se torna um fim em si mesmo, ao invés de ser um meio para alcançar a verdadeira sabedoria e entendimento. A busca por satisfação está profundamente enraizada na estrutura social do Brasil e se reflete na busca intelectual sem uma base sólida. A verdadeira confessionalidade e a teologia cristã só terão valor real se forem construídas sobre uma base firmemente alicerçada na Palavra de Deus e no desenvolvimento integral das habilidades necessárias para uma vida cristã autêntica. Sem essa base, qualquer construção teórica ou intelectual será superficial e insuficiente.

Assumir a necessidade de reforma é um ato autênticamente reformado. A tradição protestante foi construída sobre a ideia de que a igreja e o pensamento cristão precisam estar em constante reforma, sempre se ajustando à Palavra de Deus. Ignorar essa necessidade seria contradizer o espírito da Reforma.

A reforma começa com pensadores que reconhecem a necessidade de mudança e se concretiza quando essa mudança transforma o povo. Portanto, a reforma deve começar conosco, aqueles que buscam uma vida intelectual cristã verdadeira. Devemos avaliar se as estruturas atuais – governos, instituições e igrejas – estão preparadas para essa reforma. No contexto brasileiro, muitas dessas estruturas não estão prontas e nunca serão, levantando a necessidade urgente de desenvolver comunidades cristãs focadas na glorificação de Deus.

Sem essa base, qualquer discussão sobre temas como homeschooling ou educação pessoal perde seu significado. Para nós, cristãos, o objetivo supremo é glorificar a Deus. Essa é a finalidade de tudo o que fazemos, conforme estabelecido na primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster: “Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” Portanto, tudo o que empreendemos deve ter como finalidade a glorificação de Deus e o avanço do Seu reino. Somos biblicamente idealistas, pois seguimos os padrões estabelecidos pela Escritura, e fundacionalmente realistas, porque entendemos que qualquer esforço que não tenha como base a glorificação de Deus é, em última análise, sem sentido. Nossa tarefa é construir sobre essa base sólida, com a plena consciência de que nossa missão é glorificar o Senhor em todas as áreas da vida.

Pai dedicado e marido apaixonado, Orlando atua como teólogo elucidativo, aberto ao diálogo e à conversação, mas também firme na resposta às cosmovisões que não se submetem à Palavra de Deus. Sua vocação é articular a verdade bíblica de maneira clara, confrontando visões contrárias e edificando uma visão de mundo alicerçada nas Escrituras.

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