SILAS MALAFAIAAPRENDENDOCOMJESUS

CAPÍTULO 1
APRENDENDO A TER COMPAIXÃO
Em Mateus 14.13-21, está escrito:
E Jesus, ouvindo isso, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto,
apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades. E Jesus,
saindo, viu uma grande multidão e, possuído de intima compaixão para
com ela, curou os seus enfermos. E, sendo chegada a tarde, os seus
discípulos aproximaram-se dele, dizendo: O lugar é deserto, e a hora é já
avançada; despede a multidão, para que vão pelas aldeias e comprem
comida para si. Jesus, porém, lhes disse: Não é mister que vão; dai-lhes vós
de comer. Então, eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco pães e dois
peixes. E ele disse: Trazei-mos aqui. Tendo mandado que a multidão se
assentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo
os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e
os discípulos, à multidão. E comeram todos e saciaram-se, e levantaram
dos pedaços que sobejaram doze cestos cheios. E os que comeram foram
quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças.
Depois de receber a notícia da morte de João Batista por ordem de Herodes
Antipas, Jesus, entristecido, saiu da Galileia e seguiu de barco com Seus
discípulos para um lugar afastado, provavelmente em Betsaida (Lucas
9.10), a fim de descansar e recompor-se física e emocionalmente.
Sabendo do paradeiro do grande Mestre, que evangelizava os pobres,
curava os enfermos e libertava os oprimidos por espíritos malignos, uma
grande multidão de homens, mulheres e crianças seguiu-o por terra, a pé,
para ouvir os Seus ensinamentos e ser alvo de Seus milagres. Esse é o
contexto do episódio narrado em Mateus 14.13-21.
É interessante notar que, a despeito de o Senhor estar cansado pela viagem
e abatido com a injusta execução de Seu precursor e amigo, Ele foi
possuído de íntima compaixão pela multidão, curando os enfermos,
ensinando-lhes as Escrituras e multiplicando pães e peixes para dar de
comer àquelas pessoas que o seguiram de tão longe, atraída’ por Sua
bondade e graça.
O que motivou Jesus a, em meio à Sua dor pessoal, colocar-se no lugar de
outros, curar enfermos, evangelizar e alimentar a multidão? A íntima
compaixão que Ele sentiu daquelas pobres pessoas que buscavam nele a
solução para seus dilemas e problemas.
Sendo divino e humano, o Filho de Deus e a expressa imagem do Pai, bem
como o último Adão e nosso modelo de ser humano, Jesus se compadeceu
de nós e deixou-se mover por isso, agindo em conformidade com Seu amor
e Sua misericórdia. Devemos, portanto, fazer o mesmo, compadecendo-nos
uns dos outros e de nosso próximo, em obediência a Deus e à nossa
vocação em Cristo.
O significado de compaixão
Mas o que é compaixão? O termo grego original traduzido como
compadeceu-se, em Mateus 1-1.14, significa literalmente intestinos. Isto se
deve ao fato de os antigos acreditarem que as emoções estivessem
intimamente ligadas aos intestinos, talvez porque elas afetassem o
funcionamento destes; daí a mesma palavra denotar, por associação,
compaixão, misericórdia, simpatia, amor, afeição.
O sentimento de compaixão está associado à piedade e simpatia para com a
tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la.
Compaixão implica ter simpatia, colocar-se no lugar do outro, estar junto
dele e suprir sua necessidade. Em outras palavras, é sentir profundamente a
dor alheia como se fosse nossa. Não é apenas ter pena; é participar da dor
do outro e ajudá-lo a resolver o problema.
A compaixão requer uma atitude em prol do outro. É por isto que, ao
compadecer-se da multidão, Jesus fez algo concreto: curou os enfermos e
saciou a fome dos famintos.
Compaixão, um dos principais atributos cristãos
Aliás, compaixão é uma das principais características de Deus que Jesus
manifestou à humanidade. Como observou o comentarista R. N. Champlin:
[O Senhor] sentia o problema do mal […] e aliviava os sofrimentos alheios
sem qualquer objetivo de fomentar Sua popularidade […] Jesus curou
impulsionado pela misericórdia […] e se utilizou dessas curas para
enfatizar lições espirituais, especialmente a dependência que o homem
deve ter de Deus, confiando no Senhor. (Champlin, 2002, p. 421) *
Misericórdia é um gomo do fruto do Espírito, relacionado em Gálatas 5.22;
portanto, é algo que Deus espera que tenhamos e manifestemos uns para
com os outros, conforme é revelado em Oséias 6.6: Porque eu quero
misericórdia e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que
holocaustos.
Foi essa vontade que Jesus ratificou em Mateus 9.13; 12.7, assinalando
que, embora os líderes religiosos judeus da época alegassem zelo no
cumprimento da lei de Deus, estavam negligenciando o principal: a justiça
temperada com a misericórdia, que é o cerne da lei; daí o Mestre ter
enfatizado que Ele veio para chamar os pecadores ao arrependimento, e não
os que se consideravam justos, até porque, como lembrou Paulo em
Romanos ;. 10,21: não há um justo sequer; todos pecaram e destituídos
foram da graça de Deus.
Se hoje somos considerados justos diante do Criador e Juiz de todos, não é
pelos nossos próprios méritos, mas por causa da justiçado Filho de Deus,
que nos foi imputada quando Ele ofereceu o Seu sacrifício na cruz, para
perdão e expiação dos nossos pecados e nossa reconciliação com o Pai.
Sendo assim, estando justificados por Cristo, devemos praticar obras de
justiça e amor, que atestem nossa fé e nossa nova natureza e condição
espiritual (Mateus 5.16; Tiago 2.14-18).
Os discípulos de Cristo têm demonstrado compaixão genuína?
Jesus assinalou que o amor e a compaixão são as marcas dos verdadeiros
discípulos dele (João 13.35; 1 João 2.9-11). Mas será que, como cristãos,
temos demonstrado amor e compaixão à multidão de pecadores perdidos,
ou estamos preocupados apenas com a nossa própria vida e o nosso bemestar?
Como reagimos quando uma pessoa necessitada vem até nós na igreja?
Damos-lhe atenção? Tentamos ajudá-la? Temos sempre uma palavra de
ânimo, ou nos mostramos indiferentes, aconselhando-a a procurar o auxílio
do pastor, em vez de fazermos algo que esteja ao nosso alcance?
E com relação a alguém com quem trabalhamos ou estudamos todos os
dias? O que fazemos ao sabermos que tal pessoa está passando por uma
crise, problema ou enfermidade? Colocamo-nos no seu lugar e
compartilhamos com ela o amor de Deus e o evangelho de Jesus? Ou nos
comportamos como “Agentes secretos” do Reino, permanecendo
infrutíferos, para ninguém exigir algo de nós ou nos confrontar? Somos
solidários ou indiferentes à dor alheia?
Estamos imitando o nosso Mestre e tendo compaixão uns dos outros e dos
aflitos? Ou estamos tão envolvidos com os nossos problemas e dilemas que
já nem nos damos mais conta do que sofre ao nosso lado, sem liberarmos
uma palavra de ânimo e solidariedade?
Você se lembra do que inicialmente fizeram os discípulos de Jesus quando
o Mestre indagou acerca da necessidade da multidão? Sendo tarde, eles se
aproximaram do Mestre e disseram: O lugar é deserto, e a hora é já
avançada; despede a multidão, para que vão pelas aldeias comprem comida
para si (leias e comprem comida para s/ (Mateus 14. 15).
Os discípulos atentaram para as circunstâncias e ignoraram o propósito do
ministério do Messias e o grande poder de Deus, que é capaz de suprir
necessidades extremas e realizar milagres inimagináveis. Isso aconteceu
porque eles não estavam tão preocupados assim com a multidão que, até
àquela hora, dispusera-se a permanecer com Jesus para ouvir Seus
ensinamentos. Eles não queriam ver as pessoas desmaiando de fome, mas
também não desejavam para si a responsabilidade de alimentá-la.
Jesus, contudo, tinha outra coisa em mente. Ele Já havia demonstrado Sua
compaixão, falando-lhes do amor de Deus por elas, do plano de salvação,
do Reino dos céus e curando os doentes no corpo e na alma. Com a
multiplicação dos pães e peixes, Ele continuaria a demonstrar àquelas
pessoas a misericórdia e o poder de Deus, que o fazem interferir nas
circunstâncias e prover o que o homem necessita. Então, Jesus ordenou a
Seus discípulos: Não é mister que vão; dai-lhes vós de comer (Mateus
14.16). Eles questionaram: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes
(v. 1 7).
Sabe o que os discípulos estavam dizendo para Jesus? Em outras palavras:
“Não podemos fazer nada. Não podemos resolver o problema dessa
multidão. O que temos é muito pouco até para nós”.
O Mestre apresentou a solução: Trazei-mos aqui (v. 18). Eles obedeceram
e, tendo organizado a multidão em grupos, Jesus tomou os cinco pães e os
dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães,
deu-os aos discípulos, e os discípulos, à multidão (v. 19). O que aconteceu?
E comeram todos e saciaram-se, e levantaram dos pedaços que sobejaram
doze cestos cheios (v. 20).
Que lições podemos tirar desse episódio registrado nos evangelhos? Entre
outras coisas, que nós, os discípulos de Jesus de hoje, devemos ter
compaixão de nosso próximo, obedecer integralmente ao Senhor, alimentar
a alma aflita das pessoas com o pão vivo da Palavra de Deus e fazer indo o
que estiver ao nosso alcance para minimizar
O sofrimento alheio, promovendo a verdade, a justiça, a salvação e
impedindo que muitos passem a eternidade longe do Pai.
Em alguns momentos, demonstrar compaixão implicará mais do que ouvir
o que a pessoa tem a dizer, aconselhá-la e falar-lhe do amor de Deus. Tudo
isso é fundamental, mas, se ela estiver enferma ou passando por
necessidades financeiras, sem poder alimentar-se, comprar um botijão de
gás ou pagar uma conta de luz, será necessário ajudá-la de modo mais
concreto, dando-lhe uma cesta básica, pagando uma conta ou dando alguma
contribuição para que seja paga.
O Espírito Santo nos exorta: Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem
de língua, mas por obra e em verdade (1 João 3.18). Amor requer atitudes
concretas. Deus não amou só de palavra, Ele enviou o Seu próprio Filho
para nos resgatar. Você entregaria seu único filho para morrer no lugar de
malfeitores? O Senhor fez isso. Foi um preço caríssimo! Mas Ele investiu
muito para nossa salvação. Como disse João, nós o amamos porque I li- //c.
amou primeiro (1 João 4.19).
Tudo o que somos e que temos vem de Deus. Ele nos tem dado recursos
espirituais, intelectuais e financeiros, e espera que os utilizemos para
investir em pessoas, para a salvação de almas e o engrandecimento do Seu
Reino aqui na terra.
Para você, quanto vale uma alma? Você tem demonstrado compaixão?

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