É necessário compreender que o ocasionalismo que pregamos é o ocasionalismo bíblico. Usamos esse termo porque ele se encaixa de modo mais adequado às questões últimas da metafísica.
Os termos aristotélicos de causa e efeito já foram cunhados a partir da perspectiva de uma separação — ainda que artificial ou, melhor dizendo, virtual — entre causa e efeito. Em uma perspectiva convencional e prática, podemos até utilizá-los. Mas quando falamos das realidades últimas, o termo “ocasionar” e a doutrina do ocasionalismo são mais precisos.
Por quê? Porque Deus ocasiona.
A ocasião perfeita
Tomemos um exemplo banal: falamos em “ocasião perfeita” ou “ocasião ideal” para nos referirmos a um momento em que tudo se propiciou para que algo acontecesse daquele modo. Quando dizemos que algo “ocasionou” certo evento, queremos dizer que tudo se ajustou, que houve propício arranjo para que ele ocorresse.
Assim, quando afirmamos que Deus ocasiona, falamos em um sentido infinitamente mais amplo, complexo e profundo. Queremos dizer que Deus coordena e controla tudo, causa tudo em última instância, ordena e sustenta ativamente todas as coisas.
O exemplo do copo d’água
Alguém toma um copo de água. O que está acontecendo? Deus está ocasionando tudo:
A história, para que aquele copo existisse; O tempo e o espaço, funcionando de modo perfeito; A existência da sede; A permanência da matéria na forma de copo e de água; A vontade da pessoa de tomar água; A força para executar o ato de beber; O funcionamento do estômago para receber a água, etc.
Tudo isso é sustentado e guiado por Deus. Se Ele quisesse transformar a água em gelo naquele instante, também seria Ele ocasionando.
Deus ocasiona para que a realidade mantenha uma certa unidade. Mas Ele também pode ocasionar a perda dessa unidade. O que chamamos de unidade é, no fundo, uma probabilidade — uma possibilidade artificialmente reconhecida como a mais provável.
Exemplo: estando em um ambiente de 25 graus em média, ao abrir a torneira e encher um copo, esperamos que a água não vire gelo e que o copo não se transforme em pó. É a estabilidade da realidade como a percebemos. Mas se Deus determinasse que fosse diferente, ainda assim seria Ele quem estaria ocasionando.
Portanto, até a estabilidade da realidade — aquilo que chamamos de ordem natural — é sustentada e ocasionada por Deus.
O termo “ocasionar” é, portanto, o mais adequado. Ele expressa que Deus não apenas concede a ocasião ou cause a mesma para um efeito externo a Ele, mas a ocasiona em totalidade. É Ele quem ordena, sustenta e dirige todas as coisas em perfeição.
Pai dedicado e marido apaixonado, Orlando atua como teólogo elucidativo, aberto ao diálogo e à conversação, mas também firme na resposta às cosmovisões que não se submetem à Palavra de Deus. Sua vocação é articular a verdade bíblica de maneira clara, confrontando visões contrárias e edificando uma visão de mundo alicerçada nas Escrituras.