Nota sobre a série
Série Notas sobre o Expansionismo são artigos publicados com a autoria de Orlando Terceiro, com a finalidade de fazer uma apologia e defesa do expansionismo bíblico, não como uma exposição e defesa exaustiva, mas como pinceladas teológicas de reflexão sobre as críticas recebidas e os fundamentos bíblicos que as respondem. Nenhuma dessas críticas saiu de um mesmo indivíduo, então qualquer tentativa de imputar indiretas, ataques pessoais e afins, são de ordem pecaminosa por parte daqueles que assim pensam. O objetivo inicial e final, sincero e verdadeiro, é que o Senhor Jesus Cristo seja glorificado e a Igreja seja edificada com a doutrina bíblica explícita. Se alguns entenderem que esse expansionismo não é 100% de acordo com aquele que cunhou o termo e escreveu muito sobre a doutrina, ou seja, Vincent Cheung, não me importo, pois eu me atenho a entender que participar de uma tradição intelectual e teológica não me faz idólatra de alguém ou seu cego seguidor, mas participante ativo de ideias próximas ou iguais. Desse ínterim, qualquer diferença é de minha responsabilidade e qualquer conformidade é mérito do que aprendi com Cheung, e se quiserem argumentar algo a partir disso, em ambos os casos (diferença ou conformidade) a prova deve vir pelos meus escritos e os dele em comparação.
SDG
Sistematização
Meu desejo é ser direto e, por consequências externas, me manter em breves palavras, esboçando os fundamentos sistemáticos da interpretação expansionista e sua aplicabilidade nas doutrinas bíblicas. Essa aplicação não vem de fora da Escritura, mas de dentro dela, pois será a simples organização e explicação do encaixe perfeito que as doutrinas bíblicas tem entre si, principalmente quando você não torna frouxa sua teologia em algum aspecto. Aqui literalmente será a razão da nossa esperança exposta aqueles que duvidam ou entendem de modo derrotista.
Bibliologia
Nós cremos que a Palavra de Deus é Palavra de Deus, inspirada e soprada pelo Senhor para aqueles que Ele escolheu como seus oráculos, os quais não tiveram suas personalidades mitigadas, mas aprouve ao Senhor em sua Soberania Verdadeira decretar tais personalidades e seus contextos, além de tudo o mais, para que a Palavra fosse formada como hoje é.
A Escritura Sagrada é o nosso fundamento epistêmico e teológico, de modo que só a partir dela deduzimos as doutrinas que cremos. A Palavra é o nosso fundamento. E esse fundamento só é crido por um ser humano, quando o mesmo é convertido pelo Senhor e em sua mente o Espírito confirma a autenticidade da Palavra, de modo que a expansão já se inicia aí. Que obra grandiosa do Espírito, sobrenaturalmente o homem pode crer e viver as Santas Letras. Cada vez que isso ocorre, cada pessoa que olha para a Escritura com fé e crê no que ela promete, ensina e adverte, em cada momento que essa ação do Espírito é ampliada na vida de um eleito, o Reino se expande.
Alguns alegam que o poder sobrenatural tinha por objetivo finalizar o cânon bíblico, ou seja, a partir do momento que o cânon estiver fechado, já não haveria mais necessidade de dons. Qual o problema com essa visão? A Escritura não declara isso, a Palavra de Deus promete aos que creem que muitas coisas fariam e ponto. Não há abertura do Senhor para que possamos viver algum incredulismo.
Teontologia
Nós cremos no Senhor santo e verdadeiro, perfeito e eterno, com todos os atributos bíblicos que devem ser alçados à Ele. Cremos na Trindade e sua igualdade, sendo diferente apenas as funções de cada pessoa que nela participa. Justamente por crermos nesse Deus poderoso e terrível em poder, nós cremos no que Ele nos promete e ordena. Na Escritura como um todo vemos o Senhor agir e se manifestar, vemos as suas declarações e realizações que aprouve ao Senhor registrar, e em vários casos o Senhor deixou exemplos e promessas para que a partir deles buscássemos viver de acordo com o desejo de Deus, o que inclui tomar posse das promessas oferecidas.
Justamente porque o Senhor é perfeito, santíssimo, misericordioso e compassivo, infinito em bondade e amor, cremos no que Ele promete na Escritura, cremos em todas as suas bênçãos anunciadas e buscamos a partir do que Ele revelou, seguir a sua vontade e assim receber o que Ele promete. O Senhor não precisa se provar, não precisa nos dar nada, não precisa de nós, mas em sua graça e fidelidade, Ele prometeu e Ele cumpre, sendo assim, somos verdadeiros adoradores e entendedores de quem Ele é, se cremos em todos os atributos do seu ser e em suas obras.
A Soberania do Senhor é exaustiva, sendo assim ninguém pode impedir Ele de fazer o que quer. Qualquer tentativa de subtrair alguma glória ou promessa do Senhor, é pecado e deve ser abandonado. O Senhor não divide sua glória com ninguém e não pode mentir por não ser homem, logo suas bênçãos são promessas reais, que se buscadas a partir das condições por Ele definidas, serão realizadas. Aqui inclui bênçãos de prosperidade material e espiritual, de curas, poderes sobrenaturais e conversão.
Um detalhe pertinente é que somos ocasionalistas, sendo assim, não vemos a ação de Deus como de uma causa primária, mas sim como uma causa eficiente e contínua, pois ao verificarmos o decreto e ação de Deus, estamos falando de o que é normalmente conhecido como metafísica, e ao contrário dos pagãos que se veem como atuantes na estrutura da realidade, não nos vemos assim, mas consideramos o Senhor o grande arquiteto e sustentador da criação e, por óbvio, da realidade. Perceba, se olharmos a partir desse prisma, toda e qualquer movimento, ação ou afins, é em última instância ocasionada por Deus, logo não apenas a conversão está em última análise relacionada com Deus, mas a vida é monergística quando observamos a estrutura da realidade pelo prisma bíblico do ocasionalismo. Assim, o Senhor movimenta as ações sobrenaturais e naturais, ocasiona em nós dons como pregação, evangelismo, liderança etc, tanto quanto dons como cura, libertação e afins. Não há diferença, pois a fonte dos nossos movimentos em última instância é Deus. Logo, o Senhor te recomenda evangelizar e expulsar demônios, pregar e curar, e em que haverá diferença em eu criar coragem e ir falar com alguém sobre a minha fé e arrependimento, e eu ir falar com alguém sobre a minha fé e a cura? No fim, em ambas as situações, o Senhor estará ativo coordenando. Se a pessoa não for curada ou se não for convertida, o Senhor continuará Senhor e as suas promessas continuarão escritas na Palavra. Só há contradição em ser ocasionalista e não crer no poder de Deus de modo expansivo.
Cristologia
Cremos em Jesus Cristo, a segunda pessoa da Trindade, o Verbo que se encarnou, o nosso Senhor e Salvador. O Messias escolhido tomou sobre si a nossas dores, levou cativa as nossas chagas físicas e espirituais, desse modo devemos proclamar a boa nova aos cansados de Espírito, devemos levar as doenças aos pés de Jesus, devemos expulsar os demônios pelo Seu Nome e, em tudo isso, devemos glorificar ao Senhor.
O Senhor Jesus foi morto no lugar dos seus eleitos, ressuscitou e assentou à destra do Altíssimo, e intercede por nós. Por meio do Seu Nome, solicitando diretamente com Ele, é prometido que aquele que crê receberá a cura e a libertação, a limpeza dos seus pecados e a lei de Deus no seu coração. O que mais precisa ser dito? O próprio Senhor Jesus expos que faríamos as suas obras e obras maiores, se não as fazemos a doutrina é mentirosa? Não. Porque o próprio Cristo já explicou que nossa pequena fé é que nos distancia dessas coisas. Cremos que uma pessoa pode ser salva em Cristo e continuar um menino na fé, tanto em conhecimento como em poder. Crentes carnais e cristãos fracos existem, e infelizmente nessa vida não estamos completamente livres do pecado, o que já indica imperfeição. Mas se há promessas que são vigentes para esse momento, para o agora, então há a necessidade e obrigação de clamarmos a Cristo e nos achegarmos mais e mais ao Senhor, para que Ele cumpra em nós o que prometeu.
Negar a cristologia da expansão, negar que o Senhor nos prometeu, deu resposta do porque não ocorre conosco e já disse a solução, é negar textos bíblicos e a Escritura. O Senhor Jesus demonstrou na prática a expansão do Reino e deu promessas e preceitos para que continue a se expandir, sendo assim, se pedirmos, crendo que já recebemos, receberemos.
Pneumatologia
A promessa e cumprimento do derramar do Espírito vem de Cristo, e negar essa posição bíblica é, em partes, negar a cristologia. O Senhor Jesus disse que nos daria outro Consolador, o qual é o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, e esse é quem traz a conversão, imputa a obra de Cristo em nós, nos concede dons e guia-nos em santidade e no cumprimento da lei de Deus.
O Santo Espírito e suas obras, são belíssimos, bendito seja o nosso Deus. Não podemos e não devemos de modo algum restringir o Espírito, senão entender o seu ofício a partir do que Ele mesmo revelou na Escritura que fez e vai fazer. No caso, Ele revelou dons dos mais variados, inclusive sobrenaturais, conversão de pecadores, descanso aos cansados e oprimidos pelo pecado e Satanás, sabedoria e prodígios aos eleitos do Senhor. Em todas essas obras, e muitas outras, a Revelação é clara na continuação dos dons e no seu fortalecimento, a medida que solicitamos e temos fé e mais fé.
Qualquer pessoa que não seja um cessacionista, também não deve se permitir ser outra coisa senão um expansionista, por mais que chame de outro nome ou simplesmente não defina, mas viva. E como é viver essa expansão e triunfo? Crendo e solicitando poder de Deus para evangelizar, curar, expulsar demônios, agir com ousadia em todas essas coisas e ser profundo em intimidade com o Senhor por meio da Palavra e Oração. Triunfando contra o pecado, solicitando provisão de Deus, vivendo em tudo a Palavra de Deus. Não há como negar o triunfo e a vitória em Cristo, não há como negar a expansão e ampliação do Reino, são promessas bíblicas, fatos históricos e, se por algum acaso você não vive isso, a resposta já foi dada.
Tens dúvida? Acha que Deus não está expandindo, conforme Ele prometeu? Solicite ao Senhor, clame a Deus, peça a Jesus Cristo, se derrame ao Espírito Santo, pedindo visão sobre os ministérios do mundo para que veja o que tem ocorrido, também peça que ocorra com você. Não apague o Espírito, não negue as promessas bíblicas, mas comece você mesmo a ser fonte de bênçãos e instrumento do Senhor.
Harmatiologia
Acreditamos na Queda, que Adão como representante da humanidade no Éden se permitiu ouvir a serpente e o pecado entrou no mundo. Cremos que o ser humano, sem Deus, é total e fatalmente depravado, podendo ser salvo somente pela graça de Deus, mediante a fé imputada pelo Espírito.
O pecado está aí, não negamos e, ao contrário dos incrédulos, observamos as nossas próprias falhas a partir de uma perspectiva bíblica, afinal se eu não estou progredindo em santidade, há algo errado comigo, é necessário um autoexame fundamento na Bíblia para que eu verifique como posso mudar, e preciso solicitar ao Espírito Santo ajuda para vencer. E se eu não curo ou não consigo expulsar demônios, há algo errado comigo e não com a Palavra ou com o Espírito, então o que deve ser feito é um autoexame fundamento na Escritura e solicitações ao Espírito Santo para me ajudar.
O pecado trouxe as doenças físicas, mentais, espirituais e intelectuais, e todas elas podem ser vencidas pela fé em Jesus Cristo. O poder que solicitamos, a fé que buscamos e o bem que tentamos experimentar, são reais porque a Escritura me diz e o Espírito me confirma a sua veracidade. Em Cristo, por meio do Santo Espírito, eu posso clamar pela ressureição de mortos, pela cura de enfermos, pela salvação de almas, pela santificação de crentes carnais, pela expulsão de demônios e muito mais. Se eu não faço, eu devo buscar o Senhor para que Ele me sare, não devo ignorar as promessas ou fazer malabarismos hermenêuticos e exegéticos, que são porcos e não representam a visão bíblica.
Soteriologia
Me permitam citar a minha pessoa em um dos escritos dessa série:
A minha conversão não me permite ser derrotista, não posso negar os dons e o poder de Deus, eu não fiquei rico ao ser convertido, e ainda tive um longo caminho de santificação e amadurecimento, esse que ainda percorro em minha vida presente. Mas o que houve foi triunfante, de um usuário de maconha, pervertido, viciado em masturbação, maloqueiro e desrespeitoso, em síntese, de um pecador qualquer largado nesse mundo, eu fui transformado em Filho de Deus, eu fui curado, eu fui restaurado pelo sangue do cordeiro. O derrotismo em coisas menores não pode ser a minha visão, pois se na questão mais importante, a salvação da minha alma para a glória de Deus, o Senhor foi bom, mas infinitamente bom, que dirá com o restante?
A conversão é uma obra impressionante, de um poder infinito, a glória de Deus revelada. O sangue de Cristo é impagável, o amor recebido por seu poder é quase indescritível, não há como negar. A visão que temos da salvação é respondida por nossa visão da Soberania de Deus, uma teontologia como a nossa só pode gerar uma visão altamente monergística de salvação.
E se a salvação verdadeira em Cristo, tem tamanha reverência e poder embutidos na mesma, que dirá a providência ordinária do Senhor. O epicentro do Evangelho é a salvação, o retorno do homem a Deus, e a partir disso, uma vivência contínua com o Senhor, por meio do Espírito Santo que agora habita o convertido. Há tantas bênçãos, tanto poder envolvido, e tantas promessas. O Senhor olha para seus filhos e os ama, então por que não os providenciaria com bens materiais, cura e domínio sobre o mal? Se nós que somos maus não deixamos de alimentar e cuidar de nossos filhos, que dirá o Senhor.
Eclesiologia
Os dons, de modo geral, são para o benefício do corpo e a expansão do Reino. Eles glorificam a Deus, são obra do Senhor na vida dos cristãos e foram prometidos com essa finalidade, então por que o Senhor os cessaria? Por que o Senhor se daria ao trabalho de mentir? Por que Ele não cumpriria o que disse? Não há motivo e nem sentido nisso.
Em qualquer perspectiva já haveria falhas, mas como ocasionalistas, as falhas se tornam ainda piores se tentarmos restringir o que o Senhor não restringiu. Imagine o seguinte, o dom do pastor é de pregar e ensinar. Então um certo pastor, que é bíblico, ele ora, lê o texto, busca auxílios externos e ajuda no Espírito; ele prepara o sermão e, no dia apropriado, expõe o mesmo para a sua congregação, explicando e aplicando o texto bíblico selecionado. Em uma perspectiva lógica com a Escritura, ele cumpriu o dom e o Espírito fez a ação, tanto da pregação ser boa e eficaz, como dos ouvintes crerem e aplicarem em suas vidas. E no que diferencia isso de um dom profético, senão apenas em como virá a informação, não é? E as coisas pioram, porque no ocasionalismo podemos dizer que em última instância, todas as informações, da profecia e do sermão, são ocasionadas por Deus. Logo, temos a promessa de todos os dons e a sua dispensação feita pelo Espírito Santo, temos as bênçãos decretadas pelo Senhor, não temos nenhum texto-prova da Escritura que permita alguma cessação ou alteração do método, mas ainda existe pessoas que preferem a Igreja passando fome espiritual, seca em dons, porque sua teologia disse algo. É incabível e irresponsável.
Conclusão
Foram tão singelas pinceladas por vários temas e bases bíblicas, mas espero que os opositores não se permitam usar da falácia do red herring para fugir dos versículos e texto exposto. Meu desejo é ser sucinto, direto e bíblico, se cumpri essa função, já me dou por satisfeito.
A Escritura corrobora o expansionismo e o triunfalismo, a Palavra de Deus está ao nosso favor, porque nunca e em nenhum lugar encontrarão textos-prova contra o que estamos expondo e pregando, agora nós recebemos a vantagem de usar a Escritura em sua inteireza, assim podemos provar facilmente porque aparentemente não está ocorrendo a expansão. (1) Eu reitero um dos meus argumentos: você não é onisciente, e por aqui encerra qualquer discussão se o Reino está sendo expandido. (2) Mesmo que não esteja ocorrendo em escala maior e melhor, a culpa é nossa, e aqui eu me incluo com a Igreja, se é isso que querem. Eu posso falar por mim, e talvez eu seja um dos poucos que está buscando e recebendo do Senhor essas bênçãos, porém que fique claro a ênfase no talvez, afinal eu também não sou onisciente.
E com triunfalismo eu me refiro a bênçãos sem medida, a começar na salvação, com toda a misericórdia e graça do Senhor, mas se estendendo para a providência e ações as quais eu nem imagino que o Senhor está fazendo ao meu favor, afinal todas as coisas cooperam para o bem daqueles que ama a Deus.
Pai dedicado e marido apaixonado, Orlando atua como teólogo elucidativo, aberto ao diálogo e à conversação, mas também firme na resposta às cosmovisões que não se submetem à Palavra de Deus. Sua vocação é articular a verdade bíblica de maneira clara, confrontando visões contrárias e edificando uma visão de mundo alicerçada nas Escrituras.